Fala proferida pelo nosso companheiro Gustavo na abertura do I Ciclo de Seminários DACS-UFPE.
"O intuito dessa fala inicial é apresentar os objetivos e o caráter desse encontro.
Objetivos:
1) Integrar calouros e veteranos tanto no Diretório Acadêmico de Ciências Sociais quanto para além dele, ou seja, tanto como estudantes quanto como seres humanos.
A gente sabe que alguns estudantes do curso têm vontade de participar do Diretório Acadêmico, mas não se sentem à vontade para tal. Por motivos diversos: por não estar familiarizado com as discussões e conseqüentemente ficar perdido nas reuniões, por não “botar fé” na entidade, entre outros. Esse seminário é um esforço no sentido de mostrar pra todas essas pessoas que o DACS é um espaço aberto e mais do que estarem convidados a participarem do Diretório é um DIREITO de todos os estudantes de ciências sociais participarem do DACS. E é um dever de nós, que já nos apropriamos do espaço, fazer com que todos se sintam à vontade para se apropriar dele também.
Afinal de contas, ao ingressarmos na universidade duas opções nos são oferecidas: contemplar a história do curso e o curso da história, ou tornarmo-nos sujeitos em ambos. Já dizia Debord: A alienação do espectador em favor do objeto contemplado [...] se expressa assim: quanto mais ele contempla, menos vive”. Em outras palavras, podemos nos reduzir à condição de espectadores e ignorar que alguns professores não comparecem à aula, que estudantes são agredidos por seguranças terceirizados contratados pela própria UFPE, que os elevadores do CFCH vivem quebrando, que somos obrigados a conviver com um intenso barulho de construção e uma nuvem de poeira, etc. ou podemos nos organizar para que tudo isso mude. A universidade é composta majoritariamente por nós, estudantes, e nada mais razoável de que tenhamos voz sobre os rumos dela e de nossos cursos específicos. Mas ter voz e transformar a presente realidade exige conhecimento e organização.
2) Repassar um acúmulo de experiência/conhecimento no DACS e no movimento estudantil (até pra q as pessoas se sintam mais à vontade pra participar) e com base nesse acúmulo iniciar uma discussão em termos práticos sobre que rumos devemos tomar em relação ao DA e ao movimento estudantil da UFPE (é importante lembrar que o último dia tem uma hora a mais, porque essa hora extra está destinada a pensarmos em termos práticos o que fazer diante da situação que deverá ficar mais clara diante das exposições dos dias anteriores e do próprio dia)
O acúmulo repassado, todavia, não se pretende neutro e é aqui que entra o caráter do encontro. Pra esclarecer esse terceiro ponto eu vou fazer uma pequena digressão, e me remeter a uma discussão de que participei quando ainda fazia parte do Centro de Mídia Independente (CMI) do Recife, que se define como “uma rede anticapitalista de produtores/as de mídia autônomos/as e voluntários/as.”. Na época lemos um livrinho chamado “Elementos para uma teoria dos meios de comunicação” em que o autor argumentava, em oposição à chamada “tese da manipulação” (segundo a qual existe em questões políticas e sociais uma verdade pura, não manipulada, tese que, inclusive, boa parte da esquerda ainda defende, vide o grupo estudantil “A Correnteza”, que possui um jornal chamado, reveladoramente, de “A verdade”), que não existe mídia sem manipulação. Manipular, que é segundo uma definição do Aurélio: “preparar com a mão”, “equivale à intervenção técnica com um fim específico. Quando se trata de intervenção socialmente relevante e direta, a manipulação passa a ser um ato político”.
“Qualquer uso das mídias pressupõe, portanto, manipulação. Os procedimentos mais elementares da produção midiática – desde a escolha da mídia, passando por gravação, corte, dublagem, mixagem e até a distribuição – são intervenções no material disponível. Não existem escrita, filmagem, e exibição não manipuladas. Dessa forma, a questão não é se as mídias são manipuladas ou não, mas quem as manipula. Um esboço revolucionário não deve fazer desaparecer os manipuladores. Deve, ao contrário, transformar cada um de nós em manipulador.”
Em outras palavras, o problema não está na manipulação midiática, mas na separação (que não é estrutural) imposta entre emissor e receptor, i.e, numa mídia de caráter monológico, na qual nos encontramos reduzidos à condição de meros receptores/espectadores. O que o autor propõe é uma mídia dialógica, em que a oposição entre receptor e emissor seja abolida.
Talvez o motivo dessa pequena digressão já tenha ficado claro, mas, eu, precavido incansável, finalizarei minha fala deixando claro a relação da discussão sobre mídia e o caráter do atual Seminário. Assim como o uso das mídias este pressupõe manipulação (segundo a definição supracitada). Desde a escolha do espaço físico, do formato dos debates, do conteúdo das discussões até a seleção das pessoas que vão falar. Portanto, como o autor do livro supracitado não acreditamos na “tese da manipulação”. Optamos pela formato espacial circular e por limitar o tempo de exposição em 30 minutos a fim de que tenhamos 1 hora e meia de debate, pois, assim como o autor, defendemos que não se trata de fazer sumir os manipuladores, mas de transformar cada um de nós em manipulador, ou seja, garantir a dialogicidade do espaço ao estimular a participação de todos e a quebra da separação emissor- receptor."
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