Guerra de Baixa Intensidade – parte III:
Situação do Complexo Prado
Mais um assassinato político cometido contra o povo lutador assentado no Complexo Prado, na Zona da Mata Norte de Pernambuco.
Ontem (13/07/2007) pela manhã, por volta das 6h mais um trabalhador assentado foi vítima de emboscada quando se dirigia à feira para vender o fruto do seu trabalho. De vinte dias pra cá, já foram dois com as mesmas características. Quem será a próxima vítima?
Eldorado, Camarazal e Prado...?
Há onze anos foi realizado o Massacre de Eldorado dos Carajás. Na tarde de 17 de abril de 1996, mais de cem policiais assassinaram 19 trabalhadores rurais no Pará. Ninguém foi punido. Um ano depois, na madrugada de 9 de junho de 1997, aqui na Zona da Mata Norte de PE, dois trabalhadores rurais foram brutalmente torturados e assassinados. Pra variar, os assassinos, dos quais se sabem os nomes e a mando de quem cometeram tais crimes políticos, estão na impunidade. Também podem ser citados inúmeros outros casos de ataques impunes à Luta Pela Terra, como o assassinato da Irmã Doroty, também no Pará, e mais uma vez aqui próximo há dez anos, o extermínio de Luiz Carlos da Silva, trabalhador da palha da cana que encabeçava Campanha Salarial por sua categoria.
Só pra ressaltar, este segundo caso, ocorreu bem aqui perto geograficamente dos recentes fatos que nos levam mais imediatamente a divulgar este texto. Será que estamos à beira de um novo massacre? Quantos mais serão absurda e impunemente tombad@s para que tomemos medidas necessárias ao enfrentamento do grande latifúndio matador?
Dois assassinatos em vinte dias
Zé da Graviola, cerca de 40 anos, trabalhador rural assentado no Complexo Prado, foi executado do último dia 23 de junho de 2007. Por volta das 3h30 da madrugada, quando ia à feira trabalhar, foi surpreendido por dois assassinos que lhe tiraram a vida brutal e humilhantemente. Com inúmeras marcas de tiros espalhadas pelo corpo, principalmente cabeça e costa, o corpo deste trabalhador estava estirado de bruços na terra encharcada de suor e o sangue derramado na Luta Pela Terra e da chuva da noite anterior. Já aqui, a companheirada trabalhadora indagava-se, indignada e angustiadamente, se haveria próxima vítima. Será?
Vinte dias depois, 13 de julho de 2007, outro trabalhador foi executado. Severino Guilherme Lúcio, conhecido por Bio Jacaré, de 71 anos, foi emboscado por volta das 6h, também pela manhã, quando se destinava à feira para trabalhar. Na noite anterior, as 18h, houve uma perseguição feita por uma moto a uma moto-táxi em que seguia uma assentada. Esta perseguição ocorreu no mesmo trecho onde aconteceu o assassinato, doze horas depois.
Estes dois trabalhadores assassinados não exerciam grande papel de liderança. No entanto, ambos compuseram a comissão coordenadora do processo de luta pela terra durante estes dez anos, ressaltando que este segundo, inclusive, foi preso no primeiro despejo contra @s trabalhadores/as do Complexo Prado, e prestou depoimento contra o latifúndio e a polícia. Será que estes dados nos ajudam a supor alguma coisa? Então quem será a próxima vítima? Precisamos de mais vítimas? O que vocês propõem?
Perseguições tornaram-se constantes neste primeiro semestre
Já foram muitos os casos de assentad@s que sofreram perseguições. Os relatos dizem que elementos sempre acompanhados (duplas, quartetos) em motos e/ou carros costumam abordar pessoas assentadas até mesmo acompanhadas de crianças, quando estão no caminho indo ou vindo do assentamento. Nestas abordagens elas sofrem ameaças de morte por elementos de arma em punho.
Acontece que a partir do início deste ano, intensificaram-se estas abordagens. Suas características são muito peculiares, o que se leva logicamente a levantar suspeitas do caráter sistemático destas ações. Geralmente constata-se que é uma moto grande branca e os mesmos três carros (um Fiat vermelho, um Gol branco e um outro de cor preta). Detalhes: os três carros possuem placa fria e durante o dia filmam e fotografam as moradias, trabalhadores/as e seus roçados às margens da estrada da estrada.
Costumam fazer paradas estratégicas em suas investidas em três assentamentos mais comumente:
Ismael Filipe – em frente às casas de Zinha, Paula e Biba, que já teve sua casa arrombada e foi arrastado por policiais, sendo depois encontrado no presídio; ele e elas compõem a Diretoria da Associação deste assentamento;
Chico Mendes I – além circular pela região, a moto pára especificamente em frente à parcela de Zé Carlos (presidente da Associação deste assentamento) e das parcelas de Zeza e “Antônio Seda” que dá acesso aos quatro assentamentos e é ponto de ônibus;
Chico Mendes II – por ser agrovila, costumam parar em frente à placa da entrada. E a Presidente desta Associação sofre permanentemente ameaças.
Precisamos de mais detalhes? De mais FATOS para tomar atitudes que garantam a vida destas famílias assentadas, após dez longos anos de lutas, sangue, suor e truculências do latifúndio, governo, da policia militar, do poder judiciário, enfim, desta estrutura política aí (im)posta, que nunca implantou uma política agrária neste País, e brincam de REFORMAR o que não tem, criando o instituto de COLONIZAÇÃO e REFORMA AGRÁRIA.
Precisamos de mais detalhes?
Precisamos fazer alguma coisa. Estamos nos mobilizando das mais diversas maneiras possíveis. Integremo-nos. O inimigo está no caminho pronto para acabar com nossas vidas.
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