terça-feira, 28 de agosto de 2007

Plebiscito Vale do Rio Doce

Segue abaixo o relato do estudante Rafael Falcon da UFAL, sobre ocupação da reitoria da UFMG e prédio da administração da Vale do Rio Doce em Belo Horizonte - MG:



Segui em BH para acompanhar a jornada de lutas que estava por se desenrolar, organizada pelo MST, MAB, MSU, e movimento estudantil ligados a UNE e à CONLUTE.

Ocupamos a frente da reitoria da UFMG, onde montamos acampamento e começamos a desenvolver diversas atividades com presença de palestrantes, falando sobre diversos temas relacionados à educação, como Roberto Leher.

A reitoria da universidade ameaçou a retirada dos militantes a força, caso eles dormissem na universidade, e tendo em vista o número abaixo do esperado de militantes presentes, negociamos um alojamento fora da universidade, onde dormimos e no outro dia cedo voltamos ao campus para nossas atividades. No 3º dia da jornada, houve um ato que percorreu as ruas do centro de Belo Horizonte, com a adesão de secundaristas, e mais trabalhadores. Passamos pela CEMIG (Companhia Energética de Minas Gerais) onde denunciamos os altos preços da energia, pelo Bradesco (banco responsável pela fraude do leilão da Vale) e terminamos no palácio do governo, onde denunciamos a truculência do governo do estado com os movimentos sociais e o descaso com a educação e as políticas sociais do governo Aércio Neves e do governo Lula. Fechamos o ato com gritos como : " é Lula lá, Aércio aqui, e a nossa verba vai pro FMI" e "quem não pula é governista".

Na parte da tarde os movimentos partiram para uma ação mais ousada no sentido de pôr em evidência o plebiscito sobre a reestatização da Vale do Rio Doce, e mostrar como a política de privatizações está vinculada ao problema da educação. Nos organizamos e no começo da tarde, ocupamos o prédio da administração da Vale do Rio Doce com cerca de 150 militantes (veja em http://avaleenossa.org.br/). Um militante foi preso na processo de ocupação, ao tentar ajudar uns camaradas que não haviam conseguido subir. Após cerca de duas horas de ocupação, o batalhão de choque da PM tomou o prédio e fez a desocupação. Os ocupantes não apresentaram resistência, visto que a intenção do ato era apenas pôr o problema da Vale em evidência. Mas a ação da PM foi o mais truculenta possível, agredindo moral e mesmo fisicamente os ocupantes, e os tratando como criminosos por uma ação política, e em defesa dos interesses populares. A ação da PM chegou ao cúmulo de apreender agendas, telefones celulares (os quais existe uma forte suspeita de que foram grampeados), e mesmo livro sobre a acusação de serem materiais subversivos (sic). Atitudes dignas de ditadura militar. Todos os ocupantes foram detidos, e dentre eles, sem nenhum critério para tal, 12 foram selecionados como “lideranças”. Um destes 12 era eu, que nem do estado era, quanto mais “liderança do movimento”.

Passamos todos (“lideranças” ou não) todo o resto do dia na delegacia, esperando sermos liberados. Os militantes secundaristas menores presentes foram levados à delegacia de menores, onde os relatos que chegaram foi de maus tratos físicos( por os meninos de joelhos) e psicológicos (humilhação e ameaças, declarações dizendo que estavam sós, e quem ninguém estava ligando pra eles, enquanto parte da militância que não havia ocupado o prédio, junto com advogados dos movimentos sociais lutavam para liberá-los). Os maiores de idade, não estavam em muito melhor situação visto que o terrorismo psicológico nestes momentos é regra, e a humilhação é método. Por volta da meia noite, houve uma identificação por parte de dois engenheiros da Vale que supostamente teriam sido mantidos sob cárcere privado. O detalhe é que antes de os engenheiros passarem para a sala improvisada de identificação, eles passaram pelas “lideranças” e viram quais eram os que deveriam ser acusados.

Após a identificação, cinco militantes ficaram detidos, enquanto os demais (inclusive eu) faziam vigília na porta da delegacia aguardando as suas liberações. No outro dia, pela tarde, os cinco militantes seriam enviados a um presídio comum, onde ficaram misturados a presos comuns, e só seriam soltos na parte da noite, quando finalmente foi concedido o abeas corpus.

Os “12 líderes” (inclusive eu) ainda vão responder processo.

O peculiar disto tudo, é que o processo andava não no ritmo da polícia, mas sim no ritmo da Vale do Rio Doce. Quando tudo estava certo para sermos liberados, eis que surge uma ligação da Vale para o delegado e tudo mudava.

Mexemos numa das 5 maiores e mais lucrativa empresa do mundo.

Passamos o dia seguinte ao da ocupação, sendo seguidos e observados, seja na rua, seja na universidade.

Como gritavam os militantes, no pátio da delegacia, ainda detidos : “A Ditadura já acabou, mas a PM ainda não notou...”

Será que acabou?

Rafael Falcon

CABio - UFAL

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